O Festival de Cinema de Cannes é um dos eventos mais prestigiados da indústria cinematográfica mundial, atraindo talentos e produções de todos os cantos do globo. No entanto, a edição de 2024 ganhou uma atenção especial não apenas pelos filmes exibidos, mas também por uma manifestação significativa realizada pelos cineastas argentinos.
Em meio à crise econômica que assola a Argentina e os cortes severos na cultura impostos pelo governo do presidente ultraliberal Javier Milei, os profissionais do cinema argentino aproveitaram o palco internacional para erguer suas vozes e protestar contra as medidas que consideram prejudiciais à indústria cultural do país.
Cinema argentino em destaque
No Festival de Cannes deste ano, o filme “Simón de la Montaña”, dirigido por Federico Luis, conquistou o prêmio da Semana da Crítica. O longa, que aborda a amizade de Simón, interpretado por Lorenzo “Toto” Ferro, com um grupo de pessoas com deficiência intelectual, destacou-se entre as produções argentinas presentes no festival. Este reconhecimento é particularmente significativo, considerando o contexto de dificuldades financeiras enfrentadas pelo setor cultural argentino.
Cortes na cultura
A crise econômica na Argentina levou o governo de Javier Milei a implementar cortes drásticos nos gastos do estado, afetando diretamente o Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (INCAA). As medidas incluem a suspensão de programas de apoio, a demissão de mais de um quarto dos funcionários do INCAA e a interrupção do recebimento de novos projetos por 90 dias. Esses cortes foram duramente criticados pelos profissionais do cinema, que veem neles um ataque ideológico à cultura, ciência e educação do país.
Protesto em Cannes
Durante o festival, os cineastas argentinos organizaram um comício em que exibiram uma faixa gigante com a frase “Cine Argentino Unido”. Eles argumentaram que a indústria cinematográfica não é apenas uma questão econômica, mas também uma arma patriótica que pode melhorar a cultura de um país. O delegado geral do festival, Thierry Frémaux, expressou apoio à causa, destacando a importância do cinema argentino e comparando a difícil situação do setor na Argentina com a boa tendência no Brasil.
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Apoio internacional
O apoio internacional ao cinema argentino foi evidente em Cannes. A Quinzena dos Diretores, uma seção paralela do festival focada em novos talentos, também demonstrou solidariedade com os profissionais argentinos. Hernán Rosselli, que participa com o filme “Algo Viejo, Algo Nuevo, Algo Prestado”, foi aplaudido pela crítica. Rosselli destacou a importância da educação pública e da promoção do cinema na Argentina, permitindo uma produção cinematográfica heterogênea e acessível tanto à classe média quanto à classe trabalhadora.
Impacto futuro
As medidas do governo de Milei devem ter um impacto significativo na produção cinematográfica futura da Argentina. Segundo Rosselli, 2024 será um ano perdido para o cinema argentino devido à paralisia do INCAA durante grande parte do ano. Mesmo com o esforço contínuo dos cineastas, a indústria cinematográfica e o trabalho no setor sofrerão bastante, e é provável que os festivais de cinema nos próximos anos tenham pouca ou nenhuma representação argentina.
A manifestação dos cineastas argentinos em Cannes não foi apenas um protesto contra os cortes de Milei, mas também um apelo ao reconhecimento da cultura como um componente vital da identidade nacional e da economia. A luta pela sobrevivência e prosperidade do cinema argentino continua, e a solidariedade demonstrada no festival é um lembrete do papel crucial que a cultura desempenha na construção de uma sociedade mais rica e diversa. Enquanto isso, a indústria cinematográfica argentina enfrenta um futuro incerto, mas com a esperança e determinação de seus profissionais, continua a buscar maneiras de superar os desafios impostos.